Sem recorrer ao dicionário, evitando
assim que o desenrolar deste raciocínio sofra alguma influência, arrisco
dizer que o conceito de “Propriedade” derive diretamente do conceito de “Próprio”,
como o radical evidencia. Imagino que “Propriedade” signifique “Aquilo que lhe
é próprio”, em todos os desdobramentos que formos capazes de estabelecer.
Seguindo esta linha, poderíamos supor que nada é menos humano que a
Propriedade. Explico:
Para mim, ser Humano consistiria
justamente na capacidade, ao menos potencial, de abrir mão da Propriedade! Reflita!
O que me é mais próprio que eu mesmo? Ainda assim, entrego-me gratuitamente ao
próximo em cada momento de minha vida! O faço enquanto dialogo com um amigo, ao
escrever em medias sociais, quando dou banho em meu filho, dando seta ao
dirigir, etc. Não fosse este constante abrir mão da Propriedade, seriamos seres
isolados e levaríamos a espécie à extinção em apenas uma geração! Por outro
lado, (há espécie mais contraditória que a humana?) ao mesmo tempo em que
necessitamos da doação (da Não-Propriedade), nascemos com uma necessidade de “Propriedade”
quase instintiva; quantas crianças você já viu que aprenderam a dizer “É meu!”
antes mesmo de conseguir dizer “Mamãe”? Disputamos por ter mais, ter o maior,
ter o melhor. Não raramente nos decepcionamos como o “ter igual”. Amontoamos “Propriedades”,
de um pequeno suvenir até uma descomunal área imobiliária (caso #Pinheirinho
lhe venha à mente, NÃO é mera coincidência). Vivemos uma época consumista ¹,
mas o fato é que nossa necessidade de Propriedade nos é nato, antes mesmo que o
Marketing venha transformá-la em vício. Como, então, determinar limite para uma
experiência saudável das práticas de Propriedade e doação?
Não quero pregar o comunismo, mas sim
convidar a uma mudança de paradigma, a qual nem é criação minha! Muitos
conceitos atualmente empregados pra obtenção de lucro (portanto, nada altruístas)
conseguem renovar a pratica da propriedade e da doação e ainda assim produzir
resultados (retorno financeiro mesmo) muito mais expressivos que as práticas
comerciais conservadoras. Vejam as mídias sociais, sobretudo o FaceBook. Ele é
um loteamento virtual “invadido” com o consentimento do Proprietário, o qual
não perde tempo em investir fortunas para ampliar ainda mais o espaço,
possibilitando ainda mais invasões! Não se paga pela "casa" que se constrói
ali e, ainda assim, a fortuna daquele que consentiu com a invasão (na verdade,
a desejou) só faz aumentar!
Socialistas que me perdoem! Sou incapaz
de propor qualquer sistema econômico que suplante o Capitalismo! Não obstante,
creio ser plenamente possível humanizá-lo, desde que o próprio indivíduo humano
tenha resgatado seu valor como humano! Dar para receber não deve ser jargão
religioso, mas sim estratégia para capitalização a longo prazo!
A internet é prova de que todos os
nossos conceitos de propriedade precisam ser repensados! Diariamente uma
avalanche de pensamentos (a produção intelectual de uma multidão incomensurável)
é dispersada pela internet, com o consentimento dos autores, sem qualquer tipo
de registro e sem disputa por direitos autorais. “É meu e o dou à humanidade”.
Estamos numa era de transição! Se antes a propriedade era transferida por
guerra ou venda, hoje a moeda desejada é o Reconhecimento! Eu te dou meu
espírito (o que ele produz), desde que se lembre de que fui eu que o produziu.
Talvez seja apenas mais uma manifestação do mar de vaidades de nossa espécie,
mas deixamos de derramar sangue e passamos a transbordar conhecimento! Eu
acredito nisto e se podemos proceder assim com aquilo que nos é mais próprio,
nosso espírito, por que não repetir a ação com os tangíveis ² que nos cercam?
Dá pra fazer diferente! Já está
acontecendo!
Notas:
²
Não vou me aprofundar nisto. Creio que possamos seguir com ricas discussões
sobre as diferenças (e complicações) que a doação de um tangível oferece quando
em comparação com o constante dar intangível da vida cotidiana. Aguardo
comentários sobre isto!
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