Estava eu visitando alguns
interessantíssimos vídeos do universo ateu ¹, quando comecei a refletir sobre a
eterna discussão entre crentes e descrentes, ambos vomitando suas
“pseudoprovas” da validade de suas crenças e/ou do absurdo das posições
contrárias. Surpreendeu-me o quanto é firme e profunda a Fé de um ateu; Digo
“Fé”, porque o ponto de vista ateu é tão arbitrário (embora supostamente
racional) quanto o de qualquer outra crença. A aposta – afinal, Fé é sempre uma
aposta - do ateu é muito mais séria, compromissada e profunda que a de qualquer
crente. Recebo esta revelação de uma divindade muito cultuada atualmente, a
Lógica.
A coisa toda é muito simples. Quando
pensamos em divindade, temos apenas duas alternativas para conduzir nosso
raciocínio:
A = Ela existe!
B = Ela não existe!
O “pulo do gato” se dá justamente na
análise das conseqüências destas hipóteses ². Se “A = Ela Existe!” é verdadeira,
sua confirmação depende apenas da decisão desta divindade em se apresentar.
Independentemente do fato deste evento ocorrer no instante seguinte ou daqui um
milhão de anos, dentro da hipótese A a divindade estará sempre na iminência de (e
sempre revestida da possibilidade de) apresentar-se.
Se, por outro lado, optamos por tratar
como verdadeira a alternativa B ou mais, ainda que ela seja efetivamente
concreta, ela jamais será passível de verificação empírica. A mais bem
elaboração reflexão, ainda que proposta pelo mais brilhante ateu, tratar-se-á
sempre de uma especulação logicamente válida, mas qualquer estudante da lógica
sabe que “validade” não é sinônimo de “verdade”. Quinhentas laudas de uma obra
exclusivamente dedicada à refutação das estruturas sobre as quais assentam-se
as crenças religiosas serão facilmente desarmadas por inferências simples como “Talvez
ele apenas tenha optado por não se apresentar!”, “Talvez ele seja diferente
daquilo que a religião apresenta”, “Talvez ele seja realmente omisso”, “Talvez
ele queira assistir nossa emancipação por conta própria”, etc. Jamais haverá
(eu acho) mente capaz de abarcar em um único momento a totalidade do Universo e
fora dele, assim, jamais haverá a constatação empírica de que deus não está em
parte alguma. Vou além, quando/se uma mente vier a apresentar tal capacidade,
será ela a prova da divindade que pretendia refutar, será ela mesma a
divindade.
Por favor, não se confunda, eu não
acredito em Deus. Mas sou honesto o suficiente para admitir que minha descrença
é uma questão de Fé, um aposta arbitrária, sem qualquer fundamentação
concretamente científica. Se são realmente bem aventurados aqueles que tem Fé,
bem aventurados são os descrentes, pois sua Fé é a maior que se pode imaginar.
Notas:
¹
Não sou especificamente ateu mas, como budista, não acredito na divindade
judaico/cristã (ou na forma judaico/cristã de divindade), o que me vincula
facilmente ao grupo dos descrentes. Em relação aos vídeos, caso tenha
curiosidade, recomendo dois (ambos visitados em 11/08/2012):
²
Puxa vida, agora me vem a sensação de já ter tratado deste assunto noutra
publicação. De qualquer modo, como estou com preguiça de procurar, sigamos em
frente.
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