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Há anos ocorrem ricos diálogos sobre Civilização Humana e Filosofia, Teologia, História e Cultura em geral! Tudo que possa interessar a alguém que espera da vida um pouco mais que outra temporada de BBB! Após diversos convites a tornar públicos estes diálogos, está feito! Quem busca uma boa fonte de leitura, por favor, NÃO VISITE este site. O que esperamos, de fato, é a franca participação de todos, pois não se chama “Outros Discursos”.

sexta-feira, 14 de março de 2014

Heróis e Vermes!

       Muitos anos atrás eu tive um professor que marcaria minha vida para sempre. Hoje, com a bagagem que adquiri, sei que o professor O. (nome omitido para não expô-lo) não foi o maior mestre em História que existiu, entretanto, naquela época, a paixão que ele demonstrava pelo assunto e pelo ato de ensiná-lo comoveram meu coração de criança para sempre.

       Seu nome era citado como grande inspirador do meu desejo pelo conhecimento muitos anos depois de eu concluir meus estudos. Jamais o esqueci. Tornou-se um verdadeiro Herói para mim. Dia destes, entretanto, fui surpreendido por um boato (com tantas evidências que é extremamente plausível tratar-se de um fato) de que ele estaria envolvido em um grande escândalo de sedução de uma aluna menor de idade. Eu não pude aceitar que o meu herói tivesse se convertido naquilo que o relato indicava, não podia conceber que talvez ele já fosse assim desde a época em que era meu professor, assim, minha decisão foi de que tratavam-se invariavelmente de pessoas distintas. Mesmo que na sucessão cronológica fosse o mesmo homem, na narrativa da minha vida meu professor O. De História ainda era um Herói e o homem do boato um estranho. Assim nascem os heróis. Ainda que não possuam realmente toda a nobreza que lhes atribuímos, as marcas positivas que deixam em nós os mantêm Heróis.
       Hoje, 14/03/2014, porém, quero falar de como nascem os vermes, assim, contarei sobre o meu dia. Neste dia acordei três horas mais cedo que o de costume, movido por um único objetivo. Nesta noite haveria um compromisso ao qual eu fora convidado há menos de um mês, mas pelo qual ansiava há um ano. Por que um ano? Porque a exatamente um ano eu abandonava minha curta vida como docente e, sobretudo, abandonava as magníficas pessoas que conheci e tinha o orgulho de chamar “meus alunos”. Traí sua confiança afastando-me da escola covardemente. Não me despedi com o pretexto de não prejudicar as aulas causando comoção entre os alunos. Provavelmente uma desculpa para camuflar minha covardia. Sei que muitos choraram. Sei que chorei muito, e choro até hoje. Hoje, porém, seria o dia da redenção. Mais uma vez eu teria a oportunidade de estar com eles, novamente eu seria seu professor e eles seriam meus alunos, mesmo que não estivéssemos em uma aula.

       Saí do meu trabalho três horas e meia antes do horário de costume (duas horas antes do horário oficial) e duas horas antes do meu compromisso. Não vou narrar a maldita sequência de eventos e situações que me fizeram chegar em meu bairro uma hora depois daquela na qual eu deveria te chegado ao local do evento (isto seria só mais uma desculpa esfarrapada). Naquele local um inocente grupo de crianças (que matariam se me vissem chamando-os de “crianças”) pretendia homenagear-me (entre outros, é claro) em sua colação de grau (de conclusão do ensino fundamental). Esta seria a primeira vez em 33 anos de existência (provavelmente a única até o fim da minha vida) em que haveria algum reconhecimento pelo meu esforço em algo realmente de valor e em que eu acreditava (ver meu sentimento sobre isto no texto intitulado "Reconhecimento!"). Poucos anos antes (de fato, algo em torno de 2000 e 2002) eu estava tomando um chá com um grande amigo (hoje um verdadeiro Mestre em História) e ali disse (ou fiz uma oração) de que se um dia eu pudesse lecionar e tirar dali o suficiente para manter minha família eu me sentiria uma pessoa verdadeiramente realizada. Não consegui. Para os poucos alunos que tive não passei de “o cara que os abandonou”. Hoje fui apenas “um cara que faltou”, “o cara que não se importou”, uma cadeira vazia em sua formatura. Ainda que minha vida seja oposta ao do professor O. e no futuro eu realize grandes feitos e conquistas, no coração destas crianças, mesmo depois de crescidas, eu serei sempre aquela cadeira vazia. Assim nascem os vermes.

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