Sempre tive uma teoria sobre o
"Espírito da Empresa", mas nunca parei para escrevê-la. Neste final
de semana almocei no Sushi Mart (restaurante em Santana que frequentamos há
sete anos e, em nossa opinião, é o melhor de São Paulo: #Recomendo) e a
qualidade do atendimento trouxe a teoria de volta à minha mente.
Antes da análise de exemplos práticos
cabe apresentar a teoria. Acredito existir um espírito subjacente a cada
empresa, que trespassa, absorve e define cada área e indivíduo da mesma. Algo
nos moldes do Leviatã de Hobbes, mas tão profundo que beira o metafísico. Um
indivíduo recém contratado tem três caminhos:
1.
Ele já possuía um espírito compatível com a empresa. Ele permanece e
prospera.
2.
Ele não possui tal compatibilidade, mas já apresentava inclinações que
facilitaram a criação de uma: ele se adapta e prospera
3.
Ele possui incompatibilidade inconciliável: ele sai, muitas vezes sem
sequer a necessidade de ser demitido.
Este espírito, parece-me, nasce do
fundador ou presidente da empresa e escorre por todos os níveis. Ocorrem
desvios, é claro, mas o conceito básico permanece. Para ilustrar passemos aos
exemplos práticos. Como o Sushi Mart representa o ápice de minha escala
qualitativa pessoal o analisarei por último. Iniciemos o estudo pelo meu
penúltimo emprego (cujo nome da empresa não direi, mas posso revelar que seu
logotipo lembra bem um balde de fezes). A inclinação básica do espírito desta
empresa é a do "lucro a todo custo". O sacrifício dos funcionários e
dos clientes é irrelevante, desde que o fluxo de aquisição tanto de clientes
quanto de funcionários mantenha o pêndulo financeiro tendendo ao lucro.
Obviamente, conheci muita gente de bem, profundamente comprometida com o
cliente e a ética (eu disse que há desvios), mas boa parte deles não está mais
lá (eu disse que os desvios saem).
Antes deste trabalhei no já falecido
Banco Real. Era destes grupos que dá orgulho em dizer que você faz parte. A
preocupação com a sociedade e o meio ambiente escorria do presidente até a
base. Separávamos o lixo para reciclagem no escritório e em casa. No refeitório
havia fichas de congratulações para quem devolvesse o prato vazio (não
desperdice alimentos. Não ponha no prato mais do que precisa). Para
compartilhar a responsabilidade o banco fazia doações de alimentos para
comunidades carentes, porém, o volume de doações era inversamente proporcional
ao volume de pratos com restos entregues no refeitório (meu amigo, quem já
trabalhou em um lugar assim?)
Antes do Real trabalhei no Unibanco
(antes do Itaú). Era uma empresa técnica. Não senti o compromisso do Banco Real
nem a ganância da outra empresa. O compromisso era com os processos. Áreas bem
desenhadas, equipes bem treinadas, ação rápida sobre desvios (eu já disse que
sempre há desvios né?), etc. Um lugar promissor.
No ápice de minha escala duas empresas
completamente diferentes no ramo, mas irmãs no espírito, na qualidade. Primeiro
quero retornar ao Sushi Mart: Visitamos a casa pela primeira vez em 2007, época
na qual eles mantinham uma filial no Tatuapé. Cuidado no preparo dos pratos,
atenção e cortesia foram marcantes. Na época eu levava marmita para o trabalho
e nosso Vale Refeição era destinado a conhecer novos restaurantes. Depois de
correr quase todos do Tatuapé, Carrão e Belém, e alguns de Santana e Itaquera a
conclusão foi uma só - Não ir ao Sushi Mart é desperdício de tempo e dinheiro.
Ratifico minha recomendação. Você não precisa citar meu nome para ter o melhor
atendimento possível, incluindo visitas de um dos sócios para verificar se está
tudo bem e para uma conversa cordial. Na ausência deles os funcionários
não deixam por menos (como eu disse, o espírito atravessa todos os níveis).
Para encerrar, meu último emprego (não
falarei do atual por razões óbvias). O Colégio Alfa Ômega (Artur Alvim) não
deveria nem ser enumerado como emprego. É uma casa. Não sei se lá eu trabalhei
ou estudei, pois aprendi demais. Se tivesse poder de escolha estaria lá até
hoje. Trabalharia de graça, se necessário. Mas há responsabilidades que
transcendem minhas vontades pessoais. Lá o Espírito da Empresa é tão profundo
que não se pode distinguir entre direção, funcionários e "clientes"
(coloquei este termo no lugar de "alunos" apenas para manter a
coerência interna da reflexão, mas com certeza os alunos sempre foram muito
mais que simples clientes). Nunca antes eu vi tão profunda sinergia, tanto esforço
conjunto por um ideal comum, a formação dos alunos com excelência. Cada
professor que eu encontrava no café (preparado com muito carinho, diga-se)
transbordava entusiasmo pelo ensino, amor por aqueles alunos. Cada aluno
devolvia com esforço (uns mais e outros menos, é claro. São crianças) e
reconhecimento. A direção abandonava completamente o conceito de chefia, estava
a serviço dos discentes e docentes. Sei que lamentarei por toda a vida não ter
meios de matricular meu filho ali. Quando o "Espírito da Empresa" se
inclina à excelência, como é o caso do Alfa Ômega, os frutos não tardam. Sendo
uma escola muito jovem, só formou dois "terceiros anos". Teve
aprovados na Fuvest nos dois. Formandos do nono ano não param de ingressar em
cursos técnicos públicos. Há desvios? Sim. Vi professores não tão excelentes
assim. Saíram rapidamente. Vi alunos trazendo vícios de comportamento
adquiridos em outras instituições; melhoraram (uns, infelizmente, saíram).
O "Espírito da Empresa" é uma
manifestação mais complexa do espírito de amizade, já que as relações
profissionais são bem mais frágeis e bem mais complicadas que as pessoais, mas
o gérmen é o mesmo, seleção, manutenção e aprimoramento com base em valores e
afinidades. Continuemos observando. Há algo para aprender com este espírito e
muito para ensinar-lhe.
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