Como
pai e docente, sou defensor ferrenho de que a revisão de nossas politicas
educacionais é muito mais urgente que a redução da maioridade penal. Como filho
de um pai assassinado enquanto trabalhava, quem sabe por um menor, sou
perfeitamente capaz de compreender as argumentações de quem pede a redução.
O que me parece absurdo é o quão limitada pode ser a
visão dos participantes da briga e, sobretudo, o profundo nível de estupidez de
boa parte deles. A argumentação lógica dá lugar (se é que posso dizer “dá lugar”
para algo que nunca esteve ali) à agressão, ofensa, preconceito, homofobia
(dada a presença do Dep. Jean Wyllys), etc. Comportamento execrável! Mas a
estupidez dos envolvidos chega em um nível um pouco mais profundo, complexo e,
por isto mesmo, menos evidente que este: a incapacidade de avaliar os eventos
em perspectiva temporal, para além de mandatos ou de vidas particulares.
Façamos juntos um exercício intelectual simples (aqueles
que forem capazes de fazê-lo). Há duas hipóteses. Vamos segui-las até um pouco
mais adiante e ver onde deságuam:
a) A
Redução da Maioridade Penal não acontece, a manobra do Cunha é revertida e
novas votações são vetadas. Em um cenário ideal, democrático
e com preocupação legítima com a população, esta situação fomentaria outras
discussões, bem mais salutares e efetivas, tais como “Precisamos rever nosso
sistema carcerário, pois não recupera, apenas guarda e adia”, “precisamos rever
a atuação do nosso judiciário, obtendo transparência e agilidade”, “precisamos
repensar nossas polícias, trocando truculência por defesa concreta do cidadão”,
“precisamos de reforma educacional urgente, pois como está apenas garantirá
mais menores para prender daqui 14 anos”, “crimes cometidos por políticos devem
leva-los à cadeia comum, assim como desejam fazer com os menores, pois se o
argumento para a redução são as dezenas de pais de família que um menor pode
matar, um político corrupto mata centenas”. Etc;
b) A
Redução da Maioridade Penal é rediscutida e, com as manobras realizadas,
finalmente é aprovada. Os animais enfurecidos que urram nas mídias
sociais enquanto a baba escorre por entre seus dentes raivosos entram em
estase. Políticos oportunistas são transformados em heróis defensores da moral
e ganham pontos para futuras eleições. A discussão chega ao fim e, como a “solução
para a sociedade” foi obtida, nada mais precisa ser abordado. Daqui 14 anos,
quando não houver mais como prender nem onde prender, quando houver recorde de
assaltos e homicídios e o volume de marginais exceder o número de recém formados
no ensino médio capazes de passar em concursos para polícias ou vestibulares
para cursar direito, só então alguém dirá “Acho que precisamos de algumas
outras medidas. Como era mesmo aquela conversa sobre educação?”;
Por
favor, não ofenda minha inteligência reduzindo-me à corja dos direitos humanos
(os desprezarei até vê-los em campanha maciça por escolas cujos tetos não caiam
sobre a cabeça das crianças ou por normas na saúde pública tão rigorosas quanto
as da ANS) ou com a originalíssima acusação de marxista (não duvido que o seja,
mas não há nada de socialista na presente tese). O que apresento é um convite à
visão lógica da coisa, saindo da manipulação de opiniões provocada por massas
políticas cujo horizonte nunca excede 4 ou 8 anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário