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Há anos ocorrem ricos diálogos sobre Civilização Humana e Filosofia, Teologia, História e Cultura em geral! Tudo que possa interessar a alguém que espera da vida um pouco mais que outra temporada de BBB! Após diversos convites a tornar públicos estes diálogos, está feito! Quem busca uma boa fonte de leitura, por favor, NÃO VISITE este site. O que esperamos, de fato, é a franca participação de todos, pois não se chama “Outros Discursos”.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

A Extinção do Gênero

Eu sou homem, pai, budista e (pseudo) filósofo. Como homem, sou incapaz de romper completamente com meus preconceitos e tenho muitos. Como pai, sou incapaz de criar meu filho sem forçar-lhe os comportamentos e inclinações padrões de meu gênero com todas as minhas forças. Como budista, sou obrigado a rever e aprimorar minha postura constantemente, tolerando quem me é diferente e aprendendo a controlar, enquanto não elimino, meus preconceitos. Como Filósofo vejo o futuro e o futuro eu registro aqui. Haverá um dia, muitas gerações após a atual, em que os homossexuais serão, finalmente, extirpados deste mundo. Neste mesmo dia teremos realizado o grande feito de extinguir os heterossexuais. Ninguém, nem mesmo historiadores, saberá o significado do termo "bissexual". Nosso tempo será uma lenda e uma piada; poucos acreditarão que existiu de verdade. Será como hoje é o disco de vinil para nós.
Este tempo virá independente dos protestos bolsonaristicos e pressões jeanwillistescas. Ele acontecerá sem ninguém perceber, quando tanto os resistentes quanto os ansiosos já tiverem morrido há muito. Ele virá simplesmente porque é natural que venha. Virá porque tudo que é artificial se desfaz. 
E "o que é artificial?", pergunta você. Seu gosto por futebol, meu asco pelo aspecto físico do corpo masculino, a satisfação de um terceiro ao tocar sua namorada, a maquiagem na moça, o cabelo curto do rapaz, a coisa roxa na cabeça da senhora, nosso apego ferrenho a tudo isso e toda defesa lógica e/ou teológica que se tente construir. 
O mundo hoje é colorido e morto. Toda a sorte de cores e cortes revestem pessoas vazias, soterradas em valores que não são seus e urgências prescindíveis. O mundo que vejo, lá longe no futuro, é cinza. Não há cor de menino, nem de menina, nem cores neutras, muito menos C&A. A roupa abriga do frio. O sapato protege os pés. Ninguém imagina qualquer aplicação diferente destas. Todo um espectro inimaginável de cores e vida residirá no Espírito. Qualquer breve conversa em um encontro casual enquanto se andava na rua causará comoção, dada a profundidade dos interlocutores. Não existirão blogs, jornais, Wikipedia, candy crush, etc. O próximo bastará.
Mas voltemos ao gênero. Para entender como será o futuro sem gênero você precisa entender como este lhe foi enxertado. Olhe ao redor. Veja como você cria seu filho e como seu pai te criou. Veja como os "inocentes" amiguinhos, na escola, perpetuam, multiplicam e pulverizam o que trouxeram de suas casas. Veja o desespero do pai cuja voz do filho tarda a engrossar. Veja a depressão da menina cuja puberdade tardou ou cujos seios não são tão fartos quanto lhe obrigaram a acreditar que deveram ser. Veja a agonia desta menina se sentindo inteira menor. Sabe? Sua compulsão por decotes e a tristeza desta menina são irmãs. Mas veja só que coisa, seios não são para a beleza dela nem para o seu prazer sexual. São para alimentar o filho. Não me acuse de puritanismo. Nem cristão eu sou. Nem mesmo defendo o que estou dizendo. Quem escreve aqui é o filósofo. Se você me encontrar na rua, estará com o homem. O simples fato de eu ter perdido tempo escrevendo esta última linha (e as duas primeiras) já é evidência de minha ignorância, preconceito e estupidez. Que bom que eu sou macho demais para ter um blog. Que bom que apenas o filósofo escreve aqui.
Vejamos nossas inclinações e padrões de comportamento a partir de uma perceptiva friamente lógica. Robótica, até:
  • Meu filho não cobiça o corpo feminino. Diz que nunca vai casar. Acha nojento quando vê um beijo na boca. Houve um tempo que você reagiu da mesma forma. Com o tempo foi mudando de opinião, em parte porque descobriu (e gostou) e em outra porque te ensinaram a gostar. O estado natural não é o desejo, é o relacionamento. Gosto desta pessoa, não gosto muito desta. Há afinidade ou não há. Somos seres sociais, não sexuais.
  • Neste ponto você protestaria: "Você não está considerando a puberdade, mudanças hormonais, amadurecimento, vida adulta.". Discordo! Considero bem estes pontos, mas é preciso ver com clareza até onde vai a influência direta deles e em que medida os usamos como desculpa e máscara para práticas e inclinações oriundas de outras situações. Para você entender precisa ser franco e precisa se esvaziar de conceitos pré-determinados ("pré-conceitos"). Na puberdade (e até antes) a criança/adolescente descobre que há pontos de seu corpo nos quais é gostoso tocar. Se você for muito atento perceberá que acaba aí. Um mar de eventos, pensamentos, práticas, quiçá vícios, vem depois, tendo isto como mero gatilho, não como explicação, muito menos justificativa.
  • Grosso modo o prazer sexual não passa de uma reação fisiológica a um ato mecânico. Fricção em um ponto convertida em satisfação em seu cérebro. QUALQUER coisa além disto é enxerto. Toneladas de argamassa inseridas pelas convenções sociais, costumes, cinema, etc. Falar em inclinações sexuais com base na biologia não faz o menor sentido. A biologia vai te falar de reprodução, e já faz muito tempo que o ato sexual, em nossa espécie, está despido desta finalidade. Também não é em anatomia ou fisiologia que encontraremos respostas. As 10 mil posições sexuais que você viu em filmes, as 15 mil que você disse para amigos(as) que faz com a namorada/esposa/marido e as 3 que realizou de fato não fazem sentido. Não são boas, em si. Não ampliam o prazer de fato. O orgasmo é produzido pela fricção de um ponto particular. Todo o resto é relativismo. Impressão de satisfação totalmente psicológica. Totalmente emocional. Para o seu corpo -esvaziado das inclinações e vontades que você foi social e historicamente (aqui me refiro a história pessoal, não universal) treinado para ter- não existe menino e menina, homossexual e heterossexual, preliminares ou rapidinhas. Há a fricção e o orgasmo e é irrelevante se a fricção ocorreu com um homem, mulher, suas próprias mãos ou a mobília da casa.
  • Mesmo a grande ânsia por sexo, predominantemente masculina, é artificial. Não é o corpo que pede sexo a cada cinco minutos, é o condicionamento. Através do pai, dos tios, dos amiguinhos da escola, o menino foi treinado para ser um caçador. Querer cada vez mais, mesmo que no começo ele nem saiba direito porque quer. O pai o pega no colo e diz "Veja aí, menino. Isto que é bom.", e ai dele se me aparecer com uma boneca. Para a menina o condicionamento é o de satisfazer o homem, no cuidado da casa, dos filhos, na cama. Força viril insaciável em um lado e subserviência silenciosa no outro. Você pode dizer que estou atrasado, que as pessoas estão esclarecidas e que este cenário já começou a mudar faz tempo. Mas está mudando bem devagar. Entreviste as pessoas. Você encontrará muitos homens totalmente condicionados à prática interrupta do coito usando sua "virilidade" como desculpa para a infidelidade. Igualmente, encontrará muitas mulheres e jovens que confirmarão que, independente do quanto gostam de sexo, não raro se submetem só pelo medo de que o parceiro procure na rua o que não teve em casa. "Força viril insaciável em um lado e subserviência silenciosa no outro", ainda hoje. Ao lado disto ainda há as mulheres totalmente ariscas à ideia do sexo, condicionadas que foram por ideias religiosas e exigências sociais de virgindade e pureza.
  • Vamos ao exemplo prático. Se há algum leitor católico, por favor não se sinta ofendido. Fui católico muito tempo e amo a igreja. Defendo-a hoje até mais do que defendia quando eu era cristão, mas vamos discutir, por um instante, a questão da pedofilia. É elementar que a pedofilia acontece em muitos lugares, em muitas famílias, e que os eventos envolvendo padres são ínfimos, mas para meu exemplo preciso usar os padres de exemplo. Os padres são homens que foram meninos e que não tinham desejo sexual. Estes meninos foram crescendo e sendo condicionados, pelos pais, parentes e amigos de infância e adolescência a super estimar o prazer sexual, a desejar compulsivamente, a pensar em sexo ininterruptamente. Repentinamente este rapaz decide viver sua espiritualidade de uma forma mais profunda que os demais. A maioria esmagadora dos padres leva a decisão até o fim, com suas vidas rigorosamente pautadas pela castidade e celibato. Alguns poucos são vencidos pelo condicionamento, deixando o desejo pré-condicionado falar mais alto que a vocação e abandonando o sacerdócio para formar uma família. Um número ainda mais restrito se deixa vencer não apenas pelo condicionamento anterior, mas também por patologias psíquicas e emocionais (fomentadas pelo condicionamento anterior, é importante registrar) e busca a satisfação de suas compulsões através do abuso. Tanto no caso inaceitável da pedofilia quanto no caso perfeitamente compreensível da decisão de se casar não houve pressão determinante do elemento fisiológico. Se assim fosse, os outros 99,999% que vivem de maneira exemplar (e bela) o seu sacerdócio até o fim não existiriam. Eles não são castrados, são, simplesmente, superiores ao condicionamento. Eles perceberam com a própria vida o que eu estou percebendo (e escrevendo) só agora. Se você não entender não tem problema. Como hoje sou budista, sou paciente. Posso esperar muitas vidas até que você consiga compreender. (risos)
Volte ao mundo do futuro e pense nas implicações do fim do gênero (que não é algo que estou propondo nem defendendo, apenas constatando).

  • As pessoas são educadas para ser humanas, sem caçadores nem caçados.
  • Não há preconceito. Quem é diferente?
  • Não há traição. Seja porque você não é treinado para querer mais, seja porque qualquer interesse em outras pessoas será muito mais intelectual e emocional que físico.
  • Não há estupro, pois não há a mulher condicionada a evitar o coito nem homem condicionado a desejá-lo insaciavelmente. Se desejarem, acontecerá, mas é mais provável que decidam tomar um café.
  • Não há nem mesmo estas discussões de troca de sexo. Qual a relevância disto? Você se envolve com quem te cativou. Ponto final.
  • Pais lutarão desesperadamente por filhos virtuosos e os amiguinhos na escola pressionarão neste sentido, pois foi isto que trouxeram de suas casas.
  • "Pai, me apaixonei pela Carla", "Pai, me apaixonei pelo Carlos", "Pai, me apaixonei por B602", serão todos eles motivos de alegria, tenham vindo do filho ou da filha.
  • Aquilo que hoje é anunciado como grande desastre, o fim da família tradicional, será uma benção. Meu filho não é meu filho. É meu, da mulher com a qual copulei, nossos familiares e de todos os vizinhos adjacentes. A responsabilidade pela formação daquele indivíduo será da comunidade.
Isto não é para ser defendido agora. Se você se incomodou, não lute contra esta ideia. Seus tataranetos terão morrido séculos antes que algo nesta direção comece a se formar. Se você compreendeu o que eu disse, não o fomente, pelo mesmo motivo que acabei de dar. Tudo isto é mera constatação. Se a palavra "especulação" te deixar mais confortável, tudo bem. Sinta-se livre para entender assim. De minha parte, Como filósofo, vejo o futuro (sem misticismo, apenas lógica elementar) e o futuro eu registro aqui.

2 comentários:

  1. Grande Mestre Marcelo... Não dialogo aqui o quanto tanto deveria e gostaria, mas sempre estou atendo às suas postagens, precisamos registrar aqui nossas impressões, muitos grandes diálogos nossos ficaram perdidos...
    Esse tema postado é muito oportuno, a discussão está quente em todos os lugares. Quero gravar aqui uma sugestão bibliográfica: a obra de Judith Butler, que a bebendo no pós-desconstrucionismo, propõe a desconstrução do Gênero.
    até mais!

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    1. Registrado, Mestre. E agora que sou da geração Kindle, já estou procurando. \\\///

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