Na semana passada a
impressa divulgou um caso de estupro no Rio de Janeiro cometido por 33 criminosos
contra uma menor de idade. Obviamente, o caso “viralizou” nas redes sociais e
uma campanha violenta de repúdio a este evento e à “Cultura do Estupro” se
formou (até eu me manifestei, como pode ser visto em Estupro). Logo em seguida
uma contracampanha surgiu, a da turma do “Esta histórias está muito mal
contada!”.
É em oposição a esta
turma que quero me manifestar. Entendam: O ponto aqui é muito maior e mais
profundo que o seu ridículo mundinho de “Eu odeio esquerdistas comunistas!”
(pois é; vi textos que sugeriam que o apoio à moça partia de esquerdistas
sensacionalistas). A coisa é muito mais séria que seus patéticos conceitos
políticos totalmente fundados no “Não reclame. Trabalhe!” e na “Meritocracia
inquestionável!”. A discussão aqui não é política, é social e cultural. Estupro
é Estupro! Ponto! Ainda que os tais 33 não tenham participado, mas apenas um,
ainda é estupro. Não é menos estupro se a moça for namorada de maconheiro,
esposa de traficante ou até mesmo dona da boca. Seria estupro ainda que ela
fosse garota de programa, se tivesse acontecido sem seu consentimento. Isto significa
que eu desprezo as fotos com uma moça segurando uma arma que vocês
compartilharam (desprezo vocês, inclusive). Elas não mudam nada. Ainda que a
história estivesse mesmo mal contada e que esta moça em particular não tivesse
sofrido a violência, a Cultura do Estupro continua sendo real e a existência de
imbecis como os senhores apenas ajuda a fomentá-la.
Pergunto: o cara
que segura os braços da moça é menos estuprador que aquele que a penetra? Acredito
que não. Pois bem, a turminha que invalidou toda a campanha contra a Cultura do
Estupro só porque “esta história está muito mal contada” é menos responsável
pela referida cultura que o funk, as telenovelas, o machismo e afins? Fingir
que não vê e, pior, atrair para outro lado a atenção de quem está começando a
ver é, justamente, o facilitador do crime. Infelizmente poucos de nós são
autônomos de verdade. Pessoas espiritualmente maduras para discernir ético e
antiético, moral e imoral, certo e errado, por conta própria. A maioria opera
diretamente submetido à existência do agente coercitivo externo: “Deus está
vendo!”, “O que os outros vão pensar?”, “Que vergonha dos vizinhos!”, etc. (Já
falei sobre isto em Crítica à Informação) A banalização dos crimes e demais eventos de motivação
torpe (mesmo que não expressamente proibidos em lei), porém, está literalmente
soltando as bruxas. Está fazendo vir a tona as inclinações mais doentias, está promovendo
o encontro e associação dos doentes (no caso acima, 33 prováveis doentes). A Cultura
do Estupro é uma realidade no Brasil e no Mundo e precisa ser combatida com
esforço ininterrupto e conjunto de toda a sociedade. Não é uma questão de
esquerda ou direita. A menina de vestido curto na balada não é menos digna de
respeito que a senhora mãe do leitor deste blog. O respeito não é direto dos
outros. É obrigação irrevogável nossa. Percebem a diferença?
Vejo tanta energia
empregada nas discussões de gênero. Menino tem que aprender coisas de menino.
Menina tem que aprender coisas de menina. Cada qual com brinquedos, brincadeiras
e roupas específicas. Ok. Não vou me opor. Fique a vontade para abraçar o
mastro enquanto o navio afunda (leia A Extinção do Gênero). Mas tem gente ensinando “meninos” que
as “meninas” são um direito deles e não vejo esforço semelhante dos senhores
contra isso. Esta visão é esfregada na cara de nossas crianças, adolescentes e
adultos, nos comerciais, na internet, na forma de falar, na música, nas
novelas. “Você prova que é ‘homem’ se ‘comer’!”. É incalculavelmente fina a
linha divisória entre esta inferência e “Você prova que é ‘homem’ se ‘comer’,
queira ela ou não!”. Não quero parecer moralista. Não sou puritano. Não sou
defensor “da moral e dos bons costumes”. Longe disto. Sou defensor de uma
sociedade emancipada, madura, livre das doenças emocionais que ela mesma cria.
Um “Ser Humano” maior que este animal que temos sido. Humano de fato, não
homem, muito menos macho. Humano.
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