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quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Overdose de Ilusão

"#DúvidaExistencialDoDia: E se a vida real for simples como uma partida de Minecraft e isso que vivemos aqui for uma terrível simulação cujo maior ardil é o excesso de detalhes?" (Vai Twitter. @phdcelo em 13/11/2017). A afirmação acima parece absurda, eu sei, mas não estou aqui para afirmações óbvias. Ela não é demonstrável, talvez nem mesmo logicamente validável (minha lógica é pouco acadêmica), mas é pelo menos descritível (em parte), assim, vamos por esta via.

Quando tenho sonhos lúcidos (seria mais adequado dizer "quando tinha", pois sua frequência foi caindo sensível conforme fui crescendo.) minha primeira iniciativa é a validação da realidade. Obviamente não conhecia estes termos naquela época, mas fazia isto lá e o faço agora. O principal meio de confirmar tratar-se ou não de um sonho é o volume de detalhes nas adjacências. Paro e olho em volta. O inconsciente, porém, é sagaz: Os detalhes são inseridos na mesma proporção em que os busco, tornando cada vez mais difícil localizar a falha. Já localizei ervas daninhas em canto, rachaduras no asfalto, senti o vento no rosto, etc.; creio que não exista limite. O inconsciente deve monitorar a mente semiconsciente do sujeito em sonho lúcido e a cada início de "epa. Está faltando..." ela processa e insere tão rapidamente que é como se sempre tivesse estado lá. Belo ciclo. Bela armadilha. Lembrei-me de Descartes (leia o livro "#Vazio").
Mesmo sem refletir a respeito esse exercício é repetido diariamente por cada um de nós e é através dele que percebemos ter retornado ao mundo da vigília para então dar sequência às nossas vidas. Mesmo quando não há falhas no sonho há ainda um último elemento de validação que sempre está presente na vigília e nunca no sonho: a continuidade; cada novo amanhecer nos lança em uma série de eventos meticulosamente encadeada com os eventos do dia anterior. Isto não acontece em cada adormecer. Pelo menos não sempre. Quando estou doente (sobretudo quando tenho febre), entro em um sonho em looping que se repete a noite toda, mesmo que eu acorde diversas vezes na noite. Assim que cochilo retomo o sonho.
E se a vida fosse um grande sonho patológico ainda melhor elaborado que aqueles de minhas noites de febre e sob supervisão atenta de uma inteligência ainda mais ágil e complexa que o meu limitado subconsciente? Um gênio maligno ( Lembrei-me de Descartes - leia o livro "#Vazio"), um deus, vários deuses, os alienígenas do passado, o arquiteto, etc. Não importa a origem, o ponto chave é o "E se?". Já desenvolvi reflexão semelhante no passado acerca das divindades ou de deus. Ou Deus existe ou não existe. Supondo que exista, isto é passível de prova. Ele pode se apresentar a qualquer momento e então estará provado. Supondo que Deus não exista isto jamais poderia ser provado. Não importa o quanto nos desenvolvamos e nos espalhemos na exploração do Universo, por mais que nunca encontremos Deus (lembre-se que agora estamos na hipótese na qual ele não existe) ele sempre estará na iminência de se apresentar no momento seguinte. O mesmo vale para esta nossa suposta realidade. Se ela for uma ilusão (a Maya hindu) isto é passível de prova. Podemos morrer e descobrir algo depois, descobrir algo mais profundo sem morrer (atingir a iluminação), nos encontrar com Deus e ele nos revelar a verdade,etc. Por outro lado, se a realidade dada for a única realidade intrínseca, isto nunca poderá ser provado ; não importa quantas gerações ou mesmo milênios se passem, o véu de maya sempre estará prestes a ser removido. Sempre haverá alguém disposto a colocá-lo em dúvida.
Disto tudo deriva o sentimento que me levou à "#DúvidaExistencialDoDia" de 13/11. Eu estava andando pela rua no final da tarde, um belíssimo entardecer ensolarado. Tudo em minhas adjacências refletia o sol e parecia diferente da realidade normal. Coloquei-me a checar a realidade, tal qual acontece quando tenho sonhos lúcidos. Senti o toque quente do sol, a dificuldade de abrir os olhos quando estava de frente para ele, as pessoas nas ruas, os textos em panfletos, a viatura da polícia parada sem encostar, forçando os motoristas a irem para a contramão, etc. Quanto mais eu procurava, mais detalhes. Impossível furar este esquema perfeito. Uma Overdose de Detalhes. Detalhes sobre detalhes sobre detalhes, tantos que o esforço para transcendê-los é capaz travar o cérebro. Tamanha profusão impede (quiçá impossibilita) o foco, portanto, a localização da falha, a brecha para escapar da ilusão, rasgar o véu de maya. Talvez não seja à toa que os processos religiosos (enfase às técnicas hindus) de busca pela iluminação estejam tão profundamente relacionados com o cultivo da capacidade de rompimento com os mecanismos sensoriais, ou seja, os canais de acesso à ilusão. Também não à toa que o rompimento deve ser não apenas com visão, audição, paladar, olfato e tato, mas também com a mente, visto por eles como elemento sensorial e não intelectual. A mente pensa (logo, fixa. Ratifica) a ilusão advinda dos órgãos sensoriais. Abobrinha? É aqui que somos, você e eu, irremediavelmente presos no paradoxo: Qualquer suposto passo dado no caminho da comprovação desta realidade como única e absoluta, sobretudo como real, sempre poderá ser apenas uma ilusão a mais, sempre uma overdose de ilusão.

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